O Triste fim das técnicas e manobras de higiene brônquica
Créditos: BLOG PHYSIO CURSOS SP
Texto desenvolvido por:
Dr. Anderson José
Diretor Presidente da Iapes : @intensivistaxavier
As
manobras de higiene brônquica sempre estiveram intimamente ligadas à
história da fisioterapia. Um dos primeiros relatos publicados na
literatura remete ao ano de 1901, com um trabalho relatando o uso da
drenagem postural em pacientes com bronquiectasia, publicado na
prestigiada revista The Lancet.(1
Desde
então até nossos dias, muitas outras técnicas, manobras e recursos
foram desenvolvidos e aplicados na prática clínica com o objetivo de
deslocar, mobilizar, fluidificar e/ou eliminar as secreções acumuladas
nas vias aéreas de pacientes com doenças respiratórias.
Estas
manobras de higiene brônquica (MHB), em alguns casos, divergem
completamente entre si, partindo de princípios físicos fundamentalmente
diferentes e, outras vezes, são extremamente semelhantes e parecem
diferir apenas no nome.
Com
o advento da chamada medicina baseada em evidências, que teve como
marco a publicação da obra “Effectiveness and Efficiency” de Archie
Cochrane em 1972,(2) tanto a drenagem postural, quanto outras
desenvolvidas até então, precisaram passar pelo escrutínio do método
cíentífico. A simples observação empírica já não sustentava mais a
utilização clínica de qualquer conduta terapêutica. Infelizmente, a
fisioterapia não acompanhou a escalada científica que a medicina adotou
passou a adotar a partir de então.
Os
primeiros passos a caminho do reconhecimento científico começaram a ser
dados há pouco tempo. Dispomos atualmente somente de alguns ensaios
clínicos randomizados e de boa qualidade metodológica sobre as MHB, que
geraram revisões sistemáticas e guidelines.
Resumidamente,
o Guideline da American Association of Respiratory Care (3) informa
que “As MHB não são recomendadas para tratamento de pneumonias,
pacientes com DPOC, pós operatórios e qualquer paciente capaz de
mobilizar secreção por meio da tosse.”
Uma
revisão sistemática, publicada na importante revista “Respiratory Care”
conclui que “há uma limitada evidência da efetividade das técnicas de
higiene brônquica e que estas conferem de zero a pequenos benefícios em
somente alguns desfechos clínicos.” (4)
O
Guideline do American College of Chest Physicians afirma que “os
estudos disponíveis apresentam graves limitações metodológicas, os
efeitos a longo prazo não são avaliados, a comparação entre as técnicas
com a tosse isoladamente não é conhecida e que quando equipamentos são
utilizados, eles apresentam o mesmo efeito que uma manobra.” (5)
Dean
Hess, reconhecido pesquisador, nos apresenta uma frase bastante
contundente sobre as MHB: “Há uma carência de evidências de alto nível
para apoiar qualquer técnica de depuração de secreção.”(6)
Em
síntese, é necessário coragem para quebrarmos velhos paradigmas e
guiarmos nossa assistência clínica baseada nas evidências. É preciso
desapego à condutas baseadas em crenças pessoais e observações clínicas
sem método científico. Somente assim, nossa atuação será realmente
eficaz, proporcionando reais benefícios aos pacientes e reconhecimento
profissional.
Vale
ressaltar que os estudos citados acima são desfechos apresentados para a
população adulta, uma vez que a aplicabilidade dessas técnicas para a
população pediátrica é bem diferente.
Referências
-
Cantab MD et al. The Lancet 1901;158:70-72
-
Cochrane A. http://www.nuffieldtrust.org.uk/sites/files/nuffield/publication/Effectiveness_and_Efficiency.pdf. Visualizado em 23/11/2016.
-
Strickland et al. Resp Care 2013;58(12):2187-93.
-
Andrews J et al. Respir Care. 2013;58(12):2160-86.
-
McCool 2006. Chest;129:250S–259S.
-
Hess D. Resp Care 2001;46(11):1276-93.
Texto desenvolvido por:
Dr. Anderson José
Fisioterapeuta
e Administrador de Empresas, especialista em fisioterapia aplicada à
pneumologia, mestre, doutor e pós doutorando em Ciências da
Reabilitação.
Docente e supervisor do Curso de Especialização em Fisioterapia Intensiva - Physio Cursos
Tem
experiência na docência, pesquisa e assistência como professor titular
da Universidade Nove de Julho e Fisioterapeuta supervisor do curso de
especialização em fisioterapia respiratória da Irmandade da Santa Casa
de Misericórdia de São Paulo.
Atua nos seguintes áreas: reabilitação pulmonar, reabilitação domiciliar, fisioterapia respiratória e ventilação mecânica
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