IAPES

IAPES
Excelência em ensino e aprimoramento em Saúde

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Escalas oncológicas para melhora da qualidade de vida

RESENHA CRITICA
Professor: Daniel Xavier
Aluna: Andreza Gomes da Silva

As UTIs e o gerenciamento de equipe multidisciplinar evoluíram de forma que melhorassem a sobrevivência de pacientes criticamente doentes (Gosselink R, et al, 2008); (Fan E, 2012 Critical illness neuromyopathy and the role of physical therapy and rehabilitation in critically ill patients)
Entretanto os pacientes ainda sofrem perdas funcionais após a internação de nas UTIs.(Schweickert WD, Kress JP, 2011). Devido à doença de base, medicamentos e dispositivos utilizados na UTI, os pacientes passam por um longo período de imobilização no leito, levando a piora física e perda de funcionalidade. (Li Z, et al, 2013)

Após a alta hospitalar, os pacientes apresentam comprometimento funcional e consequentemente diminuição da qualidade de vida, atribuída à fraqueza proximal, perda de massa muscular e fadiga. (Herridge MS, 2003)

Mesmo após cinco anos da alta hospitalar, os pacientes ainda relatam diminuição da capacidade para realizar exercícios que necessitam de um desempenho maior de força, isso uma vez comparado com sua condição antes da doença crítica. (Herridge MS, 2011)

Os atuais métodos terapêuticos para o tratamento das neoplasias malignas incluem as ressecções cirúrgicas, a radioterapia, a quimioterapia e a hormonoterapia. Esses tratamentos são de fato efetivos na remoção e ataque as células malignas, entretanto sabe-se que algumas dessas intervenções também afetam células de tecidos saudáveis, proporcionando ao paciente efeitos deletérios que podem levar a debilitações agudas e crônicas em função da citotoxicidade. Essas debilitações incluem uma redução na capacidade cardioventilatoria, bem como outras questões relacionadas a diminuição dos níveis de função física. De acordo com National Cancer Institute a sensação de fadiga é experimentada por 72% a 95% de todos os pacientes oncológicos durante e após o tratamento. (Seixas RJ et al, 2010)

Entre outras queixas descritas, também estão presentes a redução de força muscular e a dor. Dessa forma a qualidade de vida inclui a habilidade de realizar as atividades diárias e controle dos sintomas relacionados a doença e/ou tratamento, os fatores anteriormente mencionados exercem um forte impacto sobre a qualidade de vida dos mesmos. (Seixas RJ et al, 2010)

Tais fatores que contribuem para um aumento de desfechos clínicos negativos para os pacientes oncológicos, onde a importância da avaliação da funcionalidade dos mesmos se faz perceptível. Através de escalas e questionários que mensurem o quanto funcional se encontra o sistema como um todo, uma vez que reflete na qualidade de vida.

Castro-Avila et al (2015) realizaram uma revisão sistemática e meta-análise onde as pesquisas de ensaios clínicos randomizados e não randomizados de reabilitação foram pesquisados: Medline, Embase, Cinalh, PEDro, Cochrane Library, AMED, ISI web of science, Scielo, LILACS e vários registros de ensaios clínicos. Os resultados foram selecionados por dois revisores independentes. O resultado primário foi o estado funcional. Os resultados secundários foram a capacidade de caminhada, força muscular, qualidade de vida e utilização da saúde. A extração de dados e a avaliação da qualidade metodológica utilizando a escala PEDro foram realizadas pelo revisor principal e verificadas por outros dois revisores. Os autores de estudos relevantes foram contatados para obter dados faltantes.

Foram realizadas intervenções fisioterapêuticas tais como: primeiro de forma assistida com o exercício na cama, progredindo para se sentar beira leito, depois a transição de sessão para a posição ortostática para finalmente alcançar a deambulação assistida ou independente. E como meio de mensuração o resultado primário foi uma medida do estado funcional na UTI, utilizando instrumentos que avaliam a função corporal durante tarefas funcionais: medida de independência funcional (FIM), índice Barthel, atividades Katz da vida diária ou Physical Function in Intensive care Test scored (PFIT). Os resultados secundários foram: capacidade de caminhar, teste de caminhada de 6 minutos (6MWT), força muscular , MRC, força do punho, dinamometria portátil. Para mensurar a qualidade de vida foram utilizadas: Medical Outcomes Study Short Form-36 (SF-36) ou qualidade de vida europeia 5 domínios (EQ-5D), duração da ventilação mecânica, tempo de permanência na UTI e tempo de reabilitação após a alta hospitalar. Quando disponíveis, esses dados foram coletados na avaliação inicial, na UTI e alta hospitalar, e aos três, seis e doze meses após a alta hospitalar.

Segundo Aaron Thrush et al (2012), em seu estudo prospectivo de coorte, onde os dados foram coletados prospectivamente de um Long-term acute care hospitals (LTACH) com 38 camas nos Estados Unidos durante o período de 8 meses a partir de setembro de 2010. O status funcional foi avaliado usando o FSS-UTI dentro de 4 dias após a admissão e a cada 2 semanas até a alta. O FSS-ICU consiste em 5 categorias: rolamento, transferências supina-para-sentar, assentos não suportados, transferências sentado e em ortostatismo para que fosse possível a deambulação. Cada categoria foi classificada de 0 a 7, com um máximo acumulado de FSS-ICU de 35.

Os resultados apontaram uma publicação recente que demonstrou sucesso com a Functional Status Score for the Intensive Care Unit (FSS-UCI), em uma pequena amostra de pacientes em uma UTI médica. A FSS-ICU contém 2 tarefas funcionais da medida de independência funcional (FIM) e 3 tarefas adicionais que são relevantes e viáveis para executar na configuração da UTI. Todas as 5 tarefas funcionais são avaliadas usando o sistema de pontuação de 7 pontos da medida de independência funcional (FIM), com pontuações mais altas que indicam maior função. Sendo assim Zanni e colegas usaram o FSS-UCI para descrever as deficiências dos pacientes que receberam serviços de terapia nas UTIs.

Outro estudo M Parry et al, (2012), descreve que embora haja 26 medidas funcionais para uso em pacientes críticos, atualmente existem apenas seis medidas funcionais publicadas que foram desenvolvidas especificamente para a configuração da UTI e foram submetidas a avaliação clinimétrica. Essas medidas são Physical Function in Intensive care Test scored (PFIT-s), Chelsea Critical Care Physical Assessment tool (CPAx), Perme mobility scale , Optimal Mobilization Score (SOMS), ICU Mobility Scale (IMS) e a Functional Status Score for the Intensive Care Unit (FSS-ICU). Até à data, os estudos de propriedades clinimétricas foram limitados principalmente a um único componente, como testes de confiabilidade. As escalas Physical Function in Intensive care Test scored (PFIT-s) e Functional Status Score for the Intensive Care Unit (FSS-ICU) apresentaram melhores resultados quando comparadas com a ICU Mobility Scale (IMS) neste estudo.

Em seu estudo observacional, descritivo e transversal, realizado entre os meses de Março e Junho de 2009, Seixas RJ et al (2010), utilizaram para a avaliação da qualidade de vida os questionários: European Organisation for Research and Treatment of Câncer Quality of Life Questionnaire C30 (EORTC QLQ-C30), especifico para pacientes oncológicos, validado para a língua portuguesa. Esse é composto por 30 itens divididos em cinco escalas funcionais (física, cognitiva, emocional, social e capacidade de realizar tarefas diárias relacionadas ao papel funcional), três escalas de sintomas (fadiga, náuseas e dor), seis itens individuais e duas perguntas sobre o estado geral de saúde. Os resultados do questionário, agrupados nas respectivas escalas, são expressos em pontuação que varia de 0 a 100. Para as cinco escalas funcionais e para o estado geral de saúde, um escore maior representa um estado de maior funcionalidade. Já para as três escalas de sintomas, um
escore maior representa maior nível de sintomatologia ou problemas.(Seixas RJ et al, 2010)

Para a avaliação da realização de atividade física, foi utilizado o questionário International Physical Activity Questionnaire (IPAQ) validado para a língua portuguesa. Esse questionário é constituído por seis questões que se referem ao tempo gasto com atividade física na ultima semana, englobando as atividades no trabalho, lazer, esporte ou outras atividades. Os resultados são expressos pelos equivalentes metabólicos (METs) realizados na semana. No presente estudo, optou-se por agrupar os indivíduos em duas categorias, de acordo com a sua pontuação final no IPAQ: maior do que 297 METs – o que equivale a se o paciente tivesse realizado caminhadas de 30 minutos três vezes na semana - e menor do que 297 METs. (Seixas RJ et al, 2010)

A aplicação dos questionários foi realizada sempre pelo mesmo pesquisador, na sala de quimioterapia, enquanto o paciente realizava a sua sessão habitual. Seu preenchimento durou em torno de 20 minutos e se deu por meio de entrevista, a fim de poder incluir no estudo pacientes não alfabetizados. Todos os pacientes foram entrevistados nas mesmas condições. (Seixas RJ et al, 2010)

Portanto, com os devidos estudos apresentados, há a existência de escalas que avaliam a funcionalidade dos pacientes nas UTIs como um todo não necessariamente voltadas para os pacientes oncológicos propriamente dito. Uma vez que a qualidade de vida pode ser determinada por diversos fatores como doença de base, meios de intervenção que refletem na funcionalidade do sistema. Os meios aqui citados podem ser incluídos como forma de mensuração da funcionalidade e como meio de mensuração da qualidade de forma secundária pois o quanto mais funcional o paciente oncológico se encontrar consequentemente a qualidade de vida será maior. Como instrumento de mensuração da qualidade de vida o European Organisation for Research and Treatment of Câncer Quality of Life Questionnaire C30 (EORTC QLQ-C30), se apresenta mais completo e voltado especificamente para os pacientes oncológicos, uma vez que avalia função física, cognitiva, emocional, social e capacidade de realizar tarefas diárias, possui três escalas de sintomas fadiga, náuseas e dor e seis itens individuais e duas perguntas sobre o estado geral de saúde.

Referências
Gosselink R, Bott J, Johnson M, Dean E, Nava S, Norrenberg M, et al. (2008) Physiotherapy for adult patients with critical illness: recommendations of the European Respiratory Society and European Society of Intensive Care Medicine Task Force on Physiotherapy for Critically Ill Patients. Intensive Care Med 34: 1188–1199. doi: 10.1007/s00134-008-1026-7 PubMed
Fan E (2012) Critical illness neuromyopathy and the role of physical therapy and rehabilitation in critically ill patients. Respir Care 57: 933–946. doi: 10.4187/respcare.01634 PubMed
Schweickert WD, Kress JP (2011) Implementing early mobilization interventions in mechanically ventilated patients in the ICU. Chest 140: 1612–1617. doi: 10.1378/chest.10-2829 PubMed
Li Z, Peng X, Zhu B, Zhang Y, Xi X (2013) Active Mobilization for Mechanically Ventilated Patients: A Systematic Review. Arch Phys Med Rehabil 94: 551–561. doi: 10.1016/j.apmr.2012.10.023 PubMed
Herridge MS, Cheung AM, Tansey CM, Matte-Martyn A, Diaz-Granados N, Al-Saidi F, et al. (2003) One-Year Outcomes in Survivors of the Acute Respiratory Distress Syndrome. N Engl J Med 348: 683–693. PubMed
Herridge MS, Tansey CM, Matté A, Tomlinson G, Diaz-Granados N, Cooper A, et al. (2011) Functional Disability 5 Years after Acute Respiratory Distress Syndrome. N Engl J Med 364: 1293–1304. doi: 10.1056/NEJMoa1011802 PubMed
Ana Cristina Castro-Avila, Pamela Serón, Eddy Fan, Mónica Gaete, and Sharon Mickan. Effect of Early Rehabilitation during Intensive Care Unit Stay on Functional Status: Systematic Review and Meta-Analysis Published online 2015 Jul 1. doi: 10.1371/journal.pone.0130722
Aaron Thrush, Melanie Rozek, Jennifer L. Dekerlegand. The Clinical Utility of the Functional Status Score for the Intensive Care Unit (FSS-ICU) at a Long-Term Acute Care Hospital: A Prospective Cohort Study Physical Therapy, Volume 92, Issue 12, 1 December 2012, Pages 1536–1545, https://doi.org/10.2522/ptj.20110412
Enrique Calvo-Ayala, MD, Babar A. Khan, MD, Mark O. Farber, MD, FCCP, E. Wesley Ely, MD, MPH, FCCP, and Malaz A. Boustani, MD, MPH. Interventions to Improve the Physical Function of ICU Survivors A Systematic Review. Published online 2013 Aug 15. doi: 10.1378/chest.13-0779
Selina M Parry, Linda Denehy, Lisa J Beach, Sue Berney, Hannah C Williamson, and Catherine L Granger. Functional outcomes in ICU – what should we be using? - an observational study. Published online 2015 Mar 29. doi: 10.1186/s13054-015-0829-5
Seixas RJ, Kessler A, Frison. Atividade Física e Qualidade de Vida em Pacientes Oncológicos durante o Período de Tratamento Quimioterápico. Revista Brasileira de Cancerologia 2010; 56(3): 321-330

Nenhum comentário:

Postar um comentário