Autor: Vitor Lima de Azevedo*
*Bacharel em Fisioterapia pelo Centro Universitário do
Norte (UNINORTE.)
*Pós-graduando em Fisioterapia Intensiva pelo
Instituto de aprimoramento em Ensino Superior (IAPES).
Coordenador: Daniel Xavier
A
síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA) é um tipo de lesão pulmonar
inflamatória difusa, aguda, comum e grave, com graus de intensidade variados,
decorrente de insultos pulmonares ou sistêmicos sobre a membrana
alvéolo-capilar, resultando em aumento da permeabilidade vascular local com
edema intersticial e alveolar rico em proteína, que leva a anormalidades na
troca gasosa e na mecânica pulmonar.
Os pulmões são muito sensíveis a processos
inflamatórios. Quando ocorre uma agressão, neutrófilos são atraídos e ativados
nos pulmões, liberando mediadores inflamatórios distintos, que lesam o epitélio
alveolar e o endotélio vascular, propagando o processo inflamatório. Ocorre
extravasamento de proteínas do espaço intravascular para o espaço intersticial,
com consequente edema intersticial e alveolar. Essas proteínas alteram a
integridade do surfactante pulmonar, levando ao colapso alveolar e lesão do
tecido pulmonar.
Estima-se
que ocorram 79 casos por 100.000 habitantes, sendo sua incidência aumentada em
idosos entre 75 e 84 anos. Apresenta mortalidade alta, variando de 34% a 60%.
Suas causas podem ser de ação direta, como pneumonia, aspiração de material
gástrico, embolia pulmonar e afogamento; e indireta, como sepses, múltiplas
transfusões, traumas e queimaduras graves.
Descrita,
em 1967, por Ashbaugh e Petty como insuficiência respiratória, decorrente de diferentes
doenças de base, com hipoxemia refratária associada à infiltração difusa na
radiografia de tórax, e à diminuição da complacência e da capacidade residual
funcional e denominada como “Síndrome do desconforto respiratório do tipo
adulto”; a SDRA tem passado por várias evoluções de definição nas últimas
décadas, todas com o propósito de aperfeiçoar seu diagnóstico, seu prognóstico
e definir melhores formas de tratamento.
Em
1994, uma conferência denominada American-European Consensus Conference
Comittee (AECC) formalizou uma nova definição de SDRA estabelecendo
critérios que classificaram sua gravidade e tentaram aperfeiçoar seu
diagnóstico, sendo eles: Hipoxemia grave de início agudo, variação na gravidade
da lesão pulmonar, introduzindo o conceito Lesão Pulmonar Aguda (LPA) para pacientes
com hipoxemia menos grave sendo termo SDRA referido ao
estágio mais grave da lesão pulmonar aguda.
O consenso também conceituou lesão pulmonar aguda como uma síndrome
caracterizada por inflamação pulmonar aguda e persistente, com edema pulmonar
devido ao aumento da permeabilidade vascular, associada a três componentes:
presença de infiltrados bilaterais na radiografia; relação entre a pressão
parcial de oxigênio arterial e a fração inspirada de oxigênio (PaO2/ FiO2 ) situada
entre 200 e 300 mmHg); ausência de pressão atrial esquerda, se avaliada, a
pressão de enchimento capilar pulmonar não deve exceder 18 mmHg.
Embora
tenham sido adotadas por diversos pesquisadores e clínicos da área, diversas
críticas foram dadas ao Consenso, como o termo “agudo” que não foi bem
definido, a variabilidade das avaliações nos critérios radiológicos, e falta de
estrutura para estratégia ventilatória de base.
Foi
então que, em 2012, com a intenção de atualizar os critérios da SDRA, a European
Society of Intensive Care Medicine (ESICM), a Society Critical Care
Medicine (SCCM) e a American Thoracic Society (ATS) desenvolveram
a
Definição de Berlim que passou a se tornar a mais nova referência para a
esta
síndrome. A nova definição trouxe atualizações relevantes, como início
de 7
dias após insulto clínico conhecido e o desenvolvimento da SDRA;
opacidades
bilaterais consistentes com edema pulmonar em exames de imagem de tórax
(radiografia ou tomografia computadorizada) que não são explicadas por
atelectasias, derrames ou nódulos; categorização de gravidade da SDRA em
leve (PaO2
/FiO2 entre 201 e 300mmHg, moderada (PaO2 /FiO2 entre 101 e 200mmHg) e
grave (PaO2
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Embora
a Definição de Berlim tenha presentado atualizações importantes, algumas
lacunas ficaram abertas e faltam respostas a várias áreas nas quais ainda falta
consenso no manejo dessa síndrome, como estratégia ventilatória adotada e tempo
necessário, falta de comprovação quanto acurácia reprodutível
no que tange ao diagnóstico e às suas classificações progressivas de gravidade;
uso de fatores de risco comuns para SDRA, dentre outros, sendo necessário novos
estudos e pesquisas que otimizem as definições de SDRA, conduzindo-a a um
conceito mais consistente e completo.
Referências Bibliográficas
FORCE, ARDS Definition Task et al. Acute respiratory distress syndrome. Jama, v. 307, n. 23, p. 2526-2533, 2012.
GALHARDO, Fabíola Paula Lovetro; MARTINEZ, José Antônio Baddini. Síndrome do desconforto respiratório agudo. Medicina (Ribeirão Preto. Online), v. 36, n. 2/4, p. 248-256, 2003.
ROTTA, Alexandre Tellechea et al. Progressos e perspectivas na síndrome do desconforto respiratório agudo em pediatria. Revista Brasileira de Terapia Intensiva, v. 27, n. 3, p. 266-273, 2015.
VIANA, William Nascimento. Síndrome de angústia respiratória aguda após Berlim. Pulmão RJ, v. 24, n. 3, p. 31-35, 2015.
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